Hoje venho aqui para contar um pouco da nossa experiência com a M., que veio para mudar a nossa vida. Um testemunho do amor e cuidado de Deus para com a nossa família, um Deus de misericórdia e milagres! No ultrassom do 1°trimestre (12 semanas), descobrimos que nossa menina tinha um problema de saúde, provavelmente algum tipo de síndrome grave. Foi bem difícil receber essa notícia, mas Deus quem dá a vida, então Ele decide como essa vida será!
Fizemos o exame genético com 14 semanas. A médica já tinha nos alertado sobre a suspeita dela e nossa pesquisa no Google só trouxe más notícias! Meu mundo desabou! Pegamos o resultado 15 dias depois e a suspeita foi confirmada: M. tem Síndrome de Patau - Trissomia do Cromossomo 13. Uma condição genética rara, grave, que atinge o sistema nervoso central e é considerada pela medicina "incompatível com a vida".
Nesse 1° ultrassom foram identificados higroma Cistico (inchaço na nuca), anasarca (inchaço sob a pele), ausência do ducto venoso (no coração), fenda lábio-palatina, CIV de entrada (buraquinho no coração) e polidactilia pós Axial nas mãos (1 dedo a mais). Estatisticamente somente 2,5% dos bebês chegam ao fim da gestação e a maior sobrevida relatada na literatura é de 10 anos. Sendo que a maioria dos bebês que nascem vão à óbito nos primeiros meses de vida.
Tudo isso foi explicado para nós quando pegamos o resultado com o diagnóstico. A médica ainda nos disse que as semanas entre 16 e 20 de gestação eram cruciais, a maioria dos bebês não passam dessa fase. Foram semanas muito difíceis! Nesse mesmo dia fizemos um ultrassom lá no consultório e M. estava ótima, segundo a médica. O higroma Cistico (inchaço da nuca) e todo o inchaço do corpo haviam sumido completamente!!! Louvado seja Deus!
A médica nos disse que muitos bebês nessa fase (16 para 17 semanas) pioram, o inchaço aumenta e aparecem outras coisas. Mas a M. estava bem, o inchaço regrediu e ela estava ativa e cheia de vitalidade! Deus é maravilhoso e misericordioso!
O caminho ainda era longo e árduo, mas eu já sentia e via Deus nos acompanhando e suavizando o trajeto. Realizando milagres na vida dela!
Com 22 semanas (5 meses) fizemos o ultrassom morfológico. Ela estava bem, crescendo e se desenvolvendo, um pouco menor do que deveria, mas dentro do esperado devido a condição genética. Nesse ultrassom descobrimos que ela tem os olhos um pouco menores do que o normal, a ausência do vermis cerebelar (pedacinho do cerebelo) e o crânio em forma de morango. Apesar de tudo e todas as dificuldades que ela terá, segui otimista pois o quadro dela era muito bom diante das perspectivas e de tudo o que eu já tinha ouvido.
No início de agosto ouvimos pela 1a vez o médico dizer que diante do quadro dela e da gravidez estar correndo sem problemas, ele acreditava que ela iria nascer!!! Glórias a Deus!
Fizemos o ecocardiograma da M. e a médica disse que o buraquinho no coração não era grave a ponto de precisar de intervenção cirúrgica imediata após o nascimento e que em alguns casos até fecha sozinho. A ausência do ducto venoso poderia fazer com que o lado direito do coração inchasse, pois ele controla a entrada do fluxo sanguíneo e sem ele o sangue entra com velocidade e força. Essa semana repetimos esse exame e graças a Deus o coração não está inchado, não tem refluxo, não tem líquido em volta, nada de mais grave. Somente o buraquinho. E louvamos a Deus mais uma vez!
Após o diagnóstico, nos disseram que por ser uma síndrome considerada "incompatível com a vida", poderíamos ganhar na justiça o direito de interromper a gestação, situação que foi negada por nós desde sempre, pois só Deus tem o direito de tirar uma vida que Ele concedeu. E apesar da descrença dos médicos, todos nos apoiaram em nossa decisão e seguiram conosco até o fim.
33 semanas de gestação, 8° mês e isso já é um milagre! Encontrei um grupo de mães de crianças com a mesma condição genética. E para provar que a última palavra é somente de Deus, existem crianças de várias idades, inclusive uma menina que vai fazer 14 anos. Há um tempo atrás enviaram a foto de uma jovem de 27 anos. Encontrei também 2 mães próximas da minha cidade, que me ajudaram muito com as dúvidas que tinha e em relação aos médicos.
Vivi um dia de cada vez. Sem controle de nada, sem saber qual seria o próximo acontecimento, totalmente entregue nas mãos e na vontade de Deus! Alguns dias foram mais difíceis, de tristeza, choro e muito medo. Outros de alegria e gratidão. Quem nos sustentou foi Deus por intercessão de Nossa Senhora e Santa Gianna, pois sozinhos com certeza já teríamos desistido.
Vivemos intensamente aquela frase: Deus não disse que seria fácil, mas prometeu que estaria conosco durante todo o caminho!
Minha família se aproximou mais de Deus, rezando mais. Ficamos mais unidos! Foi feita uma corrente de oração pela M., pela nossa família. Familiares, parentes, amigos, pessoas que não são próximas, enfim... muitas pessoas se uniram e se aproximaram de Deus pela M., por nós!
Além disso, entrei num grupo de mães que tiveram alterações no ultrassom de 3 meses. Algumas confirmaram T21 (Down), outras T18 (Edwards) e apareceu uma mãe com diagnóstico de T13 (Patau) como o meu.
Conversei com ela, falei da M. e apresentei o grupo das mães de Patau. Ela viu lá várias crianças vivas, com 5, 7, 14 anos, tinha até uma menina com características parecidas com a bebê que ela espera. Essa menina estava com 4 meses.
Ela se animou! Viu que é possível a bebê dela viver. Desistiu do aborto e seguiu firme com a gestação.
O caso da M. salvou um bebê do aborto. Minha pequena deixou sua marca no mundo!
Independentemente do tempo e das circunstâncias...
Nenhuma vida é em vão! Toda vida vale a pena!
Cada alma tem sua missão!
Deus levou a M. para o lado Dele! Hoje ela está no melhor lugar do mundo: o céu!
Ouvir que ela estava sem batimentos cardíacos não foi fácil. Doeu, choramos... mas em nenhum momento houve desespero ou arrependimento.
A sala de parto estava silenciosa, não houve aquele chorinho de bebê tão esperado por nós mães. Não houve choro, porque no céu não há tristeza! Céu é lugar de alegria infinita! E isso conforta meu coração de mãe.
Nosso encontro foi breve, mas tão, tão intenso, que não consigo explicar! Senti um amor, uma tranquilidade e uma paz tão grande quando a vi, peguei no colo, beijei e abençoei! Um amor profundo me invadiu.
Minha santinha M., minha intercessora no céu!
Sua passagem por esse mundo foi breve, mas tenho certeza que para nós e muitas outras pessoas foi transformadora!
Deixo aqui meus sinceros agradecimentos a cada um que nos acompanhou nessa jornada seja ajudando, rezando, enviando uma palavra amiga... cada um de vocês fez parte dessa história conosco! Minha gratidão!
Graças as orações de vocês, estou tranquila e em paz!
Jacareí, 2021