Tenho 28 anos, e sou mãe da Esperança. Ela nasceu no dia 25 de janeiro e faleceu no dia 26 de janeiro. A Esperança foi diagnosticada com acrania e anencefalia quando ela tinha 11 semanas de gestação. Eu passei por coisas que eu não imaginava que iria passar. Não tive compaixão dos médicos pela minha filha porque ela não era compatível com a vida.
Quando eu estava fazendo ultrassom a médica simplesmente falou que eu tinha que abortar a minha bebê porque ela tinha uma má formação. Só que ela não tinha falado o que que era, só me disse que era para procurar um local de referência e aí lá eles iriam ver o que podiam fazer por mim.
Lá eles confirmaram que minha filha tinha acrania. Meu marido perguntou se eu poderia ficar com o bebê e eles disseram que não, porque a minha filha não andaria, não falaria e nem brincaria, porque uma criança sem cérebro não viveria, então como que ela iria viver, como que ela iria andar, como ela iria falar.
Assim, voltamos para casa, comecei a passar por psicólogo e comecei a perceber que minha filha merecia viver, que já a amava, mesmo não sabendo o sexo dela. Quando eu descobri que era uma menina eu dei o nome de Esperança.
Criei forças para combater pessoas que falavam para tirar minha filha. E. nasceu no dia 25 de janeiro, por volta das 9h, de parto cesárea. O médico disse ‘se a sua filha chorar, ela vai para o quarto com você’. Ela chorou e foi para o quarto comigo.
À meia-noite, começou a cair a glicose dela e ela foi para UTI. Ela não mamava, nem aceitava o leite. Por volta das 4h fui na UTI. Ela se comunicava comigo. Depois, voltei às 7h, fiz carinho nela.
Às 10h, ela respirava sozinha, mas não se sabia quanto tempo ela aguentaria. Aí eu fiquei com ela. Ela chorou, gritou, falou comigo. Vi uma lágrima no rosto dela, no cantinho do olhinho, bem geladinha. Nessa hora eu já sabia que minha filha não estava bem, e ela estava indo embora. Às 13h, passei mal, fui para a enfermaria, tomei soro, peguei no sono.
Às 14h30 ela faleceu. Nesse momento, glorifiquei a Deus. O pai dela pegou-a no colo, não quis soltar. Eu peguei minha filha. Fizemos o enterro dela. Fico indignada de saber que tem criança que não é enterrada dignamente. Hoje sou a mulher que sou porque a E. me fez assim.
Hoje sou grata a Deus. A Esperança é a minha filha. Eu quero que todas as mulheres não desistam dos seus filhos porque eles merecem viver e ele sim são dignos de todo o nosso amor.
Jacareí, 2024